sábado, 12 de dezembro de 2009

Enquanto caminhavam, quase correndo na verdade, um raio cortou os céus com violência assustadora, iluminando a metrópole de pecados e medos em seus cantos mais escuros. Samuel parou e olhou para cima. Sentia algo...

- Vêm, seu maluco! – disse Jet.

Há milhares de quilômetros dali algo cortava os céus, zunido em direção a terra, mas atravessava um ar quente e morno do verão xiita. Não era algo nem de longe tão belo quanto a energia da natureza cortando uma tempestade, mas era milhares de vezes mais mortal. E essa energia ao tocar o solo espalhou-se por quarteirões cevando prédios, carros, postes, carne e osso. A área atingida era de certa de oito quarteirões. O barulho ensurdecedor do ar sendo empurrado pelo calor vinha temperado com gritos de morte e desespero até o ouvido de Nue, que olhava aterrorizado pela janela.

Mas o que mais o assustou foi o silencio. Do impacto até a ulyima onda de choque, pocuco menos de um minuto havia se passado. O silencio estrangulante durava mais que o dobro disso antes de ser rompido pelo som de ambulâncias e carros de policia, que ainda soavam abafados para Nue. Seu prédio ficava praticamente na margem de segurança da explosão, escapando com poucas rachaduras e sobrevivendo ao impacto com não mais que pouco chacoalhar. Mas Nue não ouvia nada. Ouvia noticias de bombas e atentados terroristas o tempo todo, ainda mais onde morava, mas jamais chegara a presenciar algo assim. A bomba havia explodido no exato momento que olhava pela janela, naquela exata direção. Nem sentiu as ondas de choque. Recostou-se e sentiu-se solitário como um homem morto naqueles escombros. Becca!

O mundo real se jogou em cima dele com o peso do universo ao seu redor. Por um instante mal pode se mexer sentiu o coração gelado e apertado.

Becca era uma estudante de intercambio humanitária e pacifista. Estava na casa de Nue, pois seu pai era chefe de estado.

Apaixonaram-se na mesma semana em que ela chegou, e naquele dia ela iria para o centro da Cida, que já não existia mais. Já estava na porta quando viu seu celular tocando em cima da mesa, voltou, podia ser ela.

-Alô, Becca?

-Nue, graças a Deus, onde você está? – A ligação estava horrível, mas pode perceber que era seu pai.

- Estou bem pai, tenho que ir ajudar essas pessoas, tchau.

Desligou o celular e o colocou no bolso, saiu de seu apartamento e desceu as escadas correndo, estava do lado de fora do prédio quando se deu conta do que realmente estava acontecendo.

Havia uma multidão na rua, gritando e o exercito cercava a área. Carros oficiais e médicos aceleravam em todas as direções.

Tentou ligar para Becca. Ela não atendeu. Tentou novamente. Seu celular perdera o sinal. Abafado, ao longe o som já característico da morte. Outra explosão.

O povo desesperado corria em toda a direção. O exercito perdeu o controle da situação, era a brecha que Nue esperava. Desviando aqui e ali, correndo o mais que podia viu na frente o caminho aberto como que por mágica.

Mal sabendo como, logo estava escondida em escombros próximos a área de contenção do exercito. As forças armadas iraquianas jamais devem ser levadas na brincadeira, muito menos desafiada por um garoto, fosse filho de quem fosse. Se fosse pego ali, encrencaria a família toda.

Quando no exercito, aos 12 anos, a pedido do pai, Nue se destacou também, tanto nas artes marciais secretas praticadas nessa nobre instituição quanto no treinamento tático. Mas sua paixão eram os cálculos físicos, os segredos do universo, e aos 20 abandonou a promissora carreira militar pra estudar física na faculdade publica local.

Poderia dar conta de um soldado, se armar e garantir que passaria pelos demais com uma boa chance, mas um soldado iraquiano nunca esta sozinhos. Teria que sair dali furtivamente, e ir em direção ao centro da explosão, no caminho de Becca, as chances eram poucas, ele sabia. Mas não desistiria.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Capitulo 1


O coração batia forte e rápido, os passos apressados comiam metros com fúria e fome. O peito arfava com o esforço, subindo e descendo rápido. "Não, não agora". Se jogou no banco de uma praça que acabou entrando sem perceber. As nuvens cuspiam raios incandescentes e o parque estava vazio. Reclinou a cabeça e fechou os olhos ao sentir as primeiras gotas pesadas. Logo já distinguia o barulho da chuva em tons diferentes. Mais grave e curto na grama. Alongado e plástico sobre o paletó. Oco e macio sob a pele. Frio e reverberante na pedra do banco.

- Moço, seus cigarros!

Samuel levou provavelmente o maior susto da vida. Se ajeitando no banco viu o que não esperava.

Achou que ia ver aquela linda garota de ar gótico de antes. Mas era ela e algo mais. Ali parada havia mais que uma garota de olhar esmeralda. No momento que percebia isso, essas esmeraldas faiscaram.

- Han... Obrigado...

- O que aconteceu cara? Você achou que a gente ia roubar você?

Ela disse isso e assumiu uma postura um pouco mais defensiva. Só agora percebera que estava sozinha.

- Não, eu só... – encarava as pontas de suas botas – tive que...

“Que fofo, ele é tímido, não perigoso” pensou ela.

- Já que você ia me dar o maço, acho que posso fumar mais um com você, não é? – nem ela acreditava que disse isso, já podia ver Milla sussurrando no seu ouvido: “Jett, esse cara é horrível, meu”. No outro instante se viu empurrando a amiga pra longe.

- Claro, faço questão... Se a chuva deixar a gente sequer acender o isqueiro... Tem um café ali, vem, eu pago, imagina, eu insisto. - Não sentia que era mesmo dizendo aquilo.

Era uma caminhada de dois ou três minutos, e a chuva engrossava ainda mais. A garota vestia apenas meias compridas e listradas de vermelho e branco pelos braços e o vestido. Além de uma bota enorme. Samuel tirou o casaco e jogou nos ombros dela.

Ela recuou e percebeu que não devia ter se sentido assim. Mas achou estranho, não estava acostumada a gracejos. Normalmente a maioria dos homens que saia acabavam bêbados se mostrando pra suas amigas. Sentiu-se estranhamente reconfortada com aquilo. Sorriu e disse baixinho:

- Obrigada.

O coração de Samuel quase parou.

Capitulo 1


Quando empurrou as portas de vidro do consultório chique, Samuel deu de cara com um clima pesado. Nuvens negras pairavam sob sua cabeça e coração naquela tarde que prometia ser chuvosa. Ajeitou seu casaco por sobre os ombros e passou a andar devagar pela calçada. A certa altura puxou um cigarro de seus bolsos.
- Ai moço, me dá um cigarro?
Samuel perdeu a razão do caminhar. Encarando-lhe havia longos cabelos negros rajados de vermelho emoldurando um rosto pálido e desvirginado em luxuria e maquilagem. Lábios finos escondiam um aparelho dental de borrachas rosas. Olhos verdes faiscantes gritando esmeraldas encaravam-no dentro da alma. Por um momento, estivera fora de si.
- Claro. - A voz dela era rouca e lenta, “cremosa” aos ouvidos de Samuel, e quando ela sorriu...
Estendeu o maço ate ela, que esbarrou em seus dedos pra puxar um dos cigarros. Samuel sentiu a neve aos primeiros raios de sol do verão. Precisava sumir dali,
mas ali era seu ponto de ônibus!
Deixou o maço com a moça e saiu em disparada, a ouvindo chamá-lo pra lhe devolver. “Não posso” pensava ele.

Regenese


Capitulo 1
O gatilho

-Têm conseguido sonhar, Samuel?
O psicólogo levou um olhar fulminante que não esperava. Sorriu sem graça e se ajeitou na poltrona.
- Ainda não... E não vejo a importância disso.
- Sr. Samuel. O sonho é a maneira que o cérebro usa pra organizar o que aprendeu durante o dia e descansar. Não sonhar nunca é bom. Talvez seja por isso que o senhor tem se sentido assim...
- Eu não sonho desde sempre doutor, e só tenho me sentido assim há pouco tempo.
- Talvez o senhor tenha, na verdade, sonhado desde sempre, mas não se lembre. Você nunca teve a sensação de acordar sem saber onde está, ou lembrar-se de coisas que não parecem ser suas memórias...
“O tempo todo” pensou Samuel. Se aquele homem soubesse, sairia dali numa camisa de força, com toda certeza.
- Não é que não lembre, doutor, é não sonhar mesmo.
- Como o senhor pode ter tanta certeza?
Nesse momento o relógio fez seu clique característico, mostrando que os cinqüenta minutos de Samuel haviam terminado. O doutor o viu se levantar rápido. Ele não gostava das sessões, sabia disso, mas havia ali um problema que deveria ser solucionado, de alguma maneira, sabia que Samuel precisaria de ajuda. Só não sabia ainda que tipo de ajuda.
- Sabe, Samuel, posso lhe dar mais alguns minutos...
- Obrigado doutor, eu tenho mesmo que ir, mas tem sido bom conversar com você.
Sabia que era mentira, ele odiava as sessões. Não estava indo bem no trabalho e isso se tornou uma exigência do seu chefe.
Deram as mãos e ele partiu, deixando um sorriso amarelo e forçado para a secretaria.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O começo do fim


Andando por ruas vazias e fedorentas, Jhooney sempre percebe seus pensamentos voltados á mesma direção, ao mesmo tempo que uma sombra de preocupação per passa por sua face, pois ela não deve se deixar devanear, simples segundos em sua própria mente podem lhe custar a vida. É sempre assim por aqui, num instante você está vivo, no outro já não mais. Sobrevivência está em falta no mercado.